Espírito natalino

Posted: terça-feira, 25 de dezembro de 2012 by Luis Tertulino in
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Depois de quatro meses, até que é bom tirar um pouco da poeira do blog. Mas não tem nada a ver com a data (pelo menos não exatamente).

Tava eu de viagem com a família de viagem de natal numa casa de praia e tal. pra não sucumbir totalmente ao tédio, levei um livro. "Venenos de Deus, remédios do Diabo", de Mia Couto.
Dei uma parada na leitura para tentar cochilar, e aí uma senhora de uns quarenta e poucos anos me pede para "dar uma olhadinha nesse livro". Gentilmente atendo ao pedido da senhora.
Ela começa a folhear. Lê a contra capa. As orelhas. As páginas iniciais. Dez minutos depois, me devolve. Sorridente, diz: "Ahh, gostei desse livro. Vou arranjar ele para ler depois". Contenho um emocionado sorriso.

Se isso não foi o espírito natalino agindo, então eu não sei o que foi!

Mash Up: Leminski e Ginsberg

Posted: domingo, 26 de agosto de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas:
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um dia desses quero ser
um grande poeta inglês
hipster com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado na maquinaria da noite
entre a dívida externa
e a dúvida interna

sentado em meu quarto
imagino o futuro
deixando branca a página
a noite toda deitando e rolando sobre invocações sublimes que ao amanhecer amarelado revelaram-se versos de tagarelice sem sentido

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
sob o fardo
    da insatisfação
o cigarro queima no meu colo e enche a página de fumaça e chamas
    Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

O corpo

Posted: quarta-feira, 20 de junho de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , ,
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Este quarto, onde estou agora
Onde minha alma e minha cabeça repousam agora
Este quarto, portador de uma luz branca como todas as cores do mundo
Este quarto guarda meus pensamentos
Apenas este quarto sabe quem eu sou agora
Somente ele é capaz de sentir-me.

A luz que há nele
A luz que gera formas escuras e cria as coisas para os meus olhos
É a mesma que ilumina meu corpo cansado
O corpo da labuta diária
O corpo que não vai durar cem anos
O corpo que talvez não dure cinquenta anos
O corpo que talvez não dure até o fim disto.

Este corpo é o corpo que tudo faz
É o corpo que me transporta
É o corpo que faz o mundo trabalhar
É o corpo que percebe as coisas num giro selvagem e repentino
É o corpo que que possui um cérebro para pensar.

Esses pensamentos são os que tentam entender o mundo
São os pensamentos que buscam soluções para as coisas
São os pensamentos que muito descobre
São os pensamentos que aniquilam o sono quando recosto a cabeça à noite
São os pensamentos que têm de opinar sobre tudo.

Essas opiniões que procuram entender as pessoas
Essas opiniões que constroem uma política mundial
Essas opiniões que justificaram muito sangue derramado,
muito sangue roubado
As opiniões de tudo que existe.

Mas esta noite não.
Guardarei as opiniões no baú
Se o baú não existir, eu o criarei
Pois ainda há a imaginação para mencionar
A imaginação que nos faz escapar da loucura
A imaginação que recria tudo o que foi destruído;
Guardarei também a política no baú, pois ela parece querer me matar
Guardarei os discursos, pois a cabeça não dá mais conta deles
Guardarei algumas pessoas, pois estas me dão certo trabalho
Irei guardar tudo isso, pois não me interessam por hora
No momento certo, retornarão, com plena certeza
De que dois e dois são e sempre serão quatro;
Mas hoje haverá apenas a luz que cria o giro selvagem
Apenas o corpo inerte
Apenas os olhos, oscilando entre o giro selvagem e a plena escuridão
Apenas o estalar de ossos, para livrar-me do cansaço dos dias.

É o que há por hoje.

A minha carta

Posted: domingo, 20 de maio de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , ,
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Esta minha carta não é dotada de palavras geniais, mas me recuso a deixá-las soarem triviais. Sim, porque acima de tudo, ela é verdadeira. Não sei para quem ela será destinada, mas ela é verdadeira, e pra mim isso é o importante e portanto já é o suficiente por hora. Ela talvez não chegue à caixas de correio. Se chegar, talvez não seja notada. Se for notada, talvez não seja lida. Se for lida, talvez seja jogada fora. Mas o importante é que ela vai ser enviada, seja como for.
Nessa carta falo que a essência humana tem sido deixada de lado. Falo que quero amar, e amar mais ainda as pessoas. Mas roubaram meus sentimentos, e eu não sei mais onde eles estão. É por isso que temo que minha carta se perca: ela fala a verdade.
Falo também do meu tempo: um tempo dúbio. As pessoas ora têm esperança, ora desacreditam no futuro. Inclusive eu. É a velha história: um ceticismo que no fundo é falso. Ou seria ao contrário?
Algumas pessoas já foram para o outro lado. Algumas ainda não, mas já se foram também. De algumas aguardo a volta, demora ela ou não. Talvez destine essa carta para elas. Direi-lhes o quanto as espero, aqui, do outro lado, ou na linha tênue.
Falo que o sono acabou. Ninguém mais consegue fechar os olhos e descansar em paz. Estão cuidando da vida dos outros - sem se importar com eles, obviamente. Estão preocupados com o próximo passo, o próximo dia que ainda nem começou, com a conta que atrasou dois dias porque não há como pagá-la, e com as que ainda virão daqui a uns anos. Os testes trazem a insônia. E aí vem as drogas para dormir e para acordar. Relógio medicamentoso.
Essa carta não enviará boas-novas. Se alguém a receber, não ficará feliz com o seu conteúdo, pois é tempo de se conseguir corpos. è tempo de salvar o próprio corpo, e depois se esconder atrás de uma colina, ou num vale profundo. As lembranças são amargas, não há porque sorrir. Mas mesmo assim estamos sorrindo. Não há porque amar. Mas peço nessa carta pelo amor. Isso é um sinal de tempos ruins. Mas ainda é uma carta - e traz em si a poesia do mundo.

"quando só há lembrança,
ainda menos, pó,
menos ainda, nada,
nada de nada em tudo,
em mim mais do que em tudo,
e não vale acordar
quem acaso repouse
na colina sem árvores.
Contudo, esta é uma carta."
Carlos Drummond de Andrade - A Carta

"Este é o quarto, o início de tudo
Através da  infância, através da juventude, me lembro de tudo
Tenha visto as noites, repletas de violência e dor
E os corpos conseguidos, os corpos conseguidos
Onde terminará? Onde terminará?
Onde terminará? Onde terminará?"
Joy Division - Day Of The Lords

Para os amigos!

Posted: sexta-feira, 16 de março de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , ,
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Trecho de "On The Road", de Jack Kerouac, o mais belo e emocionante até agora. Dedicado aos meus amigos...


“Fundimos a cuca pensando pra onde ir e o que fazer. Eu tinha uma carreira bastante boa em andamento em NY e percebi que ia sobrar para mim ajudar Neal. Pobre, pobre Neal --- nem o Demônio tinha caído tão fundo; numa idiotia, com o dedo infeccionado, rodeado pelas malas maltratadas de sua vida febril e desamparada indo e vindo, pela América inúmeras vezes, um pássaro perdido, um bosta, dê seu preço e pegue o troco. ‘Vamos a pé até Nova York’ disse ele ‘e enquanto isso avaliamos tudo ao longo do caminho --- simm.’ Puxei meu dinheiro e contei; mostrei para ele. 2x. ‘Tenho aqui’ disse a quantia de oitenta e três dólares e uns trocados, e se você vier comigo nos mandaremos para Nova York --- e depois para a Itália.’ ‘Itália?’ disse ele. Seus olhos brilharam. ‘Itália simm --- como chegaremos lá, caro Jack?’ Meditei. ‘Arranjarei mais dinheiro, vou ganhar outros mil dólares e uns trocados. Vamos curtir todas as mulheres loucas de Roma, Paris, de todos aqueles lugares; vamos sentar nos cafés ao ar livre; vamos encontrar Burford, White Jeffries e viver nos cabarés. Por que não ir pra Itália?’ ‘Porque simm’ disse Neal e então percebeu que eu estava falando sério e pela primeira vez olhou para mim com o rabo do olhos, porque eu jamais havia me comprometido assim com sua pesada existência, e aquele era o olhar de um homem que pesava suas chances no último instante antes de fazer sua aposta. Naquele olhar havia júbilo e insolência, era um olhar diabólico, e ele pousou seus olhos em mim por um longo, longo tempo. Encarei-o e enrubesci. Falei ‘Qual é o problema?’ Me senti um traste ao fazer a pergunta. Ele não deu resposta e continuou me encarando com o mesmo canto de olho desconfiado e insolente. Tentei lembrar de tudo que ele tinha feito na vida e ver se não havia nada do passado que o deixasse desconfiado agora. Firme e resolutamente repeti o que havia dito - - ‘Venha para NY comigo, eu tenho dinheiro’. Olhei para ele; meus olhos estavam se enchendo de lágrimas e constrangimento. Ele continuava me fitando. Seus olhos agora estavam vazios e me atravessavam. Provavelmente foi o ponto crucial da nossa amizade quando ele percebeu que eu realmente tinha gasto alguma horas pensando nele e ele estava tentando catalogar isso em suas categorias mentais tremendamente confusas e complicadas. Algo estalou em nossas almas. Em mim foi a súbita preocupação com um homem anos mais moço que eu, cinco anos, & cujo destino estivera ligado ao meu no curso de anos nebulosos; nele era algo que só posso calcular pelo que fez depois. Ficou extraordinariamente satisfeito e disse que estava tudo combinado.”

Terremoto

Posted: segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , ,
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que bela manhã de sol
que bela manhã de sol para as pessoas saírem de suas casas
manhã de sol para se fazer tudo que se planejou
quantas pessoas ali na rua
na rua em uma manhã de sol
uma rua no sol
sol - coisa que dá vida
rua - coisa onde se vive

olha: estão todos caminhando ali
todam andam, andam, andam
andam
andam
mais
andam mais
andam
andam, andam, andam
correm, mais
correm, andam, correm
andam, correm, correm
correm, correm, andam
mais
e
mais
e
mais
e
mais

eis um ruído em meio a ruídos
a vozes
numa sincronia
perfeitamente dessincronizada
camadas e camadas de vozes
diferentes tons
tons e gritos e sussurros

todos ali no concreto
o ruído cresce, cresce, cresce
as pessoas diminuem suas vozes
tentam descobrir o que é
aos poucos se afastam de onde vem os ruídos
oooh: uma linha ali no meio
- alguns correm
- medo e pânico em alguns
nem todos pagaram as contas
olha! - outra linha -
nem todos compraram o que precisavam
ouça: está tremendo!
nem todos viram o que passou na televisão
nem todos trabalharam o quanto deviam
mais e mais linhas
retas
curvas
riscos
lápis
lápis no concreto
quem duvidou que vulcões aqui existem?
quem achou que aqui não havia pânico?
rompe
rompe
romp
r-o-m-p-e
ROMPEU!

foi poeira pra todos os lados
alguns gritaram
algumas bocas: subjugadas pela lei da gravidade
aquilo era simplesmente impossível
um dia como aquele, impensável
inaceitável
mas quem diria,
lá estava ela
toda cercada de rosa
toda cercada de um aroma jamais sentido
- só sentiam o cinza -
e lá estava, viva,
transgressora:
uma simples rosa havia rompido o concreto!

Os olhos de Ligeia

Posted: domingo, 5 de fevereiro de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: ,
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"De olhos, não encontramos modelos na antiguidade remota. Pode ser que nos olhos de minha bem-amada estivesse o segredo a que lorde Verulam alude. Quero crer fossem eles bem maiores que os olhos comuns à nossa raça. Eram, inclusive, mais rasgados que os olhos agazelados da tribo do vale de Nourjahad. Contuso, só ocasionalmente, em horas de intensa excitação, fazia-se notar essa peculiaridade de Ligeia. Nessas horas, sua beleza - pelo menos, assim via minha fantasia exaltada - copiava beleza dos seres extraterrenos, a beleza da fabulosa huridos turcos. As pupilas eram do negro mais brilhante, ensombradas por longas pestanas de azeviche. As sobrancelhas, de contorno irregular, tinham a mesma cor. A "estranheza", todavia, que eu descobria nesses olhos independia do formato, da cor ou do brilho deles; vinha, antes, da expressão. Ah, a palavra sem sentido, sob cuja ampla latitude de mero som sepultamos nossa ignorância de tantas coisas espirituais! A expressão dos olhos de Ligeia! Quantas vezes não refleti sobre isso! Quanto não lutei, durante uma noite inteira de verão, para sondá-la! Que era aquilo, mais profundo que o poço de Demócrito, jacente bem no fundo das pupilas de minha bem-amada? Que era aquilo? Dominava-me a ânsia de descobrir. Aqueles olhos, aquelas enormes e brilhantes e divinas pupilas, tornaram-se para mim as estrelas gêmeas de Leda, e eu me verti no mais devoto dos astrólogos."

Trecho de "Ligeia", de Edgar Allan Poe

O futuro começa devagar

Posted: sexta-feira, 20 de janeiro de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , , ,
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Tava qui pensando em como começar esse texto, e aí me veio à pergunta-chave: por onde começar? No mundo em que estamos hoje, fazer(-se) uma pergunta dessa é de extrema importância. Chega ser até mesmo algo vital, necessário para se respirar. Start! Todos sabemos que vivemos num infeliz, cruel e desumano circulo vicioso de desumanidade, infelicidade e crueldade, e parece não existir um começo para a mudança. Se não há nem fim do túnel, quem dirá luz neste!

Não vou nem comentar a culpa disso tudo. Isso todos sabemos. O que importa no momento é como reverter toda essa situação. Minha mente está um tanto destruída, e eu não me importo. Só me interessa consertá-la, e nada mais.
E sabem de uma coisa? Já que a ordem é mudar o mundo, eu ouso começar acreditando que pode ser mudado. Acredito que eu dei o primeiro passo, agora é só esperar o momento certo de dar os próximos. Mas se nem todos ou mesmo ninguém concordar com isso, não faz mal. Não me importo. "You can blow what's left my right mind (I don't mind)".
Acredito que não podemos desistir de chegar onde queremos; nunca. E não venho aqui invocar aquele discurso clichê de lutar por nossos sonhos, porque isso é obrigação de todos. Me refiro a não desistir das coisas, das pessoas. Das pessoas principalmente. Não desistir de acreditar que alguém lhe dá bom dia pelo simples e belo fato de alguém realmente lhe desejar um bom dia. Ou uma boa tarde. Não desistir de acreditar que algum desconhecido fala com você apenas para lhe fazer uma pergunta, tirar alguma dúvida, descobrir porque afinal de contas entrou naquela fila quilométrica de atendimento no banco, e não para tirar alguma vantagem ou te tapear. São coisas assim que precisamos acreditar. Sei que é difícil e demorado; é por isso que existem as décadas e os séculos, para acomodar a mudança.
Falo de silêncio? De jeito nenhum. Precisamos falar, mais do que nunca, nesses tempos de redes sociais, 140 caracteres e mais uma infinidade de coisas. Abramos nossas bocas e falemos para o mundo! O tempo existe para acomodar a mudança; a voz para começá-la, realizá-la, concretizá-la de fato. Não venho desmerecer as redes sociais; de forma alguma. Sou fã assumido delas. São essenciais hoje em dias, levam nossa voz para qualquer parte do mundo. Acredito que é uma questão de saber usar. Só isso.
O mundo é ruim? É. O mundo precisa mudar? Precisa. Mudar é difícil? E como. Mas a mudança precisa começar por algum lugar. O mundo precisa deixar de ser um círculo. Ou pelo menos o que acontece nele. Let's start, humans!

Em tempo: como diria o The Kills:
"Eu nunca vou desistir de você
Se algum dia eu desistir de você meu coração certamente falhará"



Auto-mutilação em Bukowski

Posted: segunda-feira, 2 de janeiro de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , , ,
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Trecho de “Mulheres”, do Bukowski:

Andava, andava e me sentia cada vez pior. Talvez porque eu ainda estivesse lá, ao invés de voltar pra casa. Eu estava prolongando a agonia. Que espécie de merda era eu? Um sujeito capaz de armar jogadas bem malévolas e alucinadas. E qual a razão? Será que eu estava querendo me vingar de alguma coisa? Até quando eu ia ficar dizendo que era apenas uma pesquisa, um simples estudo sobre as mulheres? Eu estava era deixando as coisas acontecerem sem me importar muito com elas. Eu não tinha nenhum consideração por nada além do meu prazerzinho barato e egoísta. Eu parecia um ginasiano mimado. Eu era pior que qualquer puta; uma puta só toma o seu dinheiro, nada mais. Eu bagunçava vidas e almas como se fossem brinquedos. Como é que eu ainda me considerava um homem? Como é que eu ainda escrevia poemas? Eu era feito de quê, afinal? Eu era um marquês de Sade pangaré, sem o gênio dele. Qualquer assassino era mais sincero e honesto que eu. Ou um estuprador. Não queria botar minha alma em jogo, não queria vê-la exposta a deboches, sacanagens. Sabia muito bem disso tudo. Eu não prestava, essa era a verdade. Podia sentir isso, andando de lá pra cá no tapete. Não prestava. E o pior é que eu passava pelo contrário do que era: um bom sujeito. Eu entrava na vida dos outros porque eles confiavam em mim. Eu aprontava as minhas cagadas com a maior facilidade. Eu estava escrevendo A história de amor de uma hiena.
Parei no meio da sala, surpreso comigo mesmo. Depois, quando dei por mim, estava sentado na beira da cama, chorando. Podia tocar as lágrimas com os dedos. Meu cérebro turbilhonava, embora eu estivesse lúcido. Não conseguia entender o que acontecia comigo.

I love you, I love you, I love you, What’s your name?

Posted: segunda-feira, 26 de dezembro de 2011 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , , ,
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você disse: “eu amo você”
você disse isso
você disse isso pra mim
você disso isso para ela e para ela também
e você repetiu isso para ela

você disse para ela: “Ohhh, sweet child o’mine”!
era verdade,
ou você apenas aprendeu a repetir essa frase?

você disse: “eu te amo”
e aí minha pele sentiu o seu amor
foi um beliscão e tanto, aquele
você achou que estava fazendo o necessário para mim

você chegou em casa
mais uma noite
sua boca estava adornada
(e com certeza assim também havia sido pouco antes)
e você tirava o adorno, para transformá-la em uma chaminé
onde estava o seu volante?
quem dormiu na sua direção?
você estava sem controle
não tinha como me enganar: aquilo não era água
eu já ia dormir,
mas tragicamente, ela ainda estaria acordada
o que tinha de errado com seus olhos?
você via tudo vermelho
ela com certeza não era toureira.

e aí você foi embora
você continuava dizendo: “eu te amo”
fóruns e juízes
”eu te amo”
eu me interessava pelo que você tinha
”eu te amo”
você teve que ir de novo
e bem depois eu ia lá algumas vezes
e você disse para ela: “eu não quero ver você nem pintada de ouro”
e eu parei de ir lá, pq você mais uma vez teve que ir
(acredite: eu lhe te entendi nas duas vezes que você foi)

eu nem te vejo mais
eu nem me importo mais
eu estou aqui
e você disse: “eu te amo”
e você continua dizendo: “eu te amo”.

Depois

Posted: terça-feira, 6 de dezembro de 2011 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , ,
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O que você vai fazer quando não mais precisar fechar os olhos?
O que você vai fazer quando puder migrar junto com os pássaros?
O que você vai fazer quando seu cérebro entender que nada doi?
O que você vai fazer quando puder ter tudo?
O que você vai fazer?
Qual o próximo passo?
Para onde você vai, depois de percorrer todas as estradas?
Com quem você vai conversar, quando já tiver conhecido o mundo todo?
O que você vai fotografar, quando já tiver ido a todos os ponto turísticos?
Do que você vai rir, quando já tiver ouvido todas as piadas?
O que você vai fazer?
O que vai querer depois?
O que vai tentar depois?

O Retorno

Posted: quarta-feira, 16 de novembro de 2011 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: ,
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Fim de tarde. Hora de retornar ao lar. Hora de ter o tão esperado descanso.
Um ônibus nem tão lotado, onde todos conversam, e eu fico em silêncio. Eu fico em silêncio com a cara na janela, olhando a vegetação arruinada; olhando pro nada, sem procurar por alguma coisa; sem procurar alguém conhecido nas poucas casas que aparecem no caminho.
E há tantas luzes, muitas luzes. Já escureceu. E para esse momento servem as luzes: para iluminar a cidade que se também começa a se recolher aos seus lares - claro que nem toda a cidade: essa ainda vai ferver por alguma horas. No alto de algum lugar, vendo as várias luzes da cidade. E como elas brilham! Um grande cobertor dourado. Eu não vejo nada ou ninguém, só aquele ouro brilhante, revelando toda a noite; iluminando toda um fim de dia.
E ainda nos últimos resquícios de pôr-do-sol, uma estrela brota como uma espinha no céu - tão chamativa! Ela provavelmente não me leva a lugar algum; ela com certeza não indica o caminho da salvação da humanidade, mas ela sempre estará ali. O que não quer dizer que isso signifique alguma coisa. Ela apenas está ali, como todas as outras estrelas, brilhando, até o dia da sua morte, até o dia da escuridão.
E todos os dias esse cobertor estará brilhando a ouro; todos os dias aquela "espinha brilhante" estará lá no céu; e todos os dias eu voltarei para casa, com a cabeça recostada na janela de vidro do ônibus, vendo todo esse cenário.

Na madrugada

Posted: quarta-feira, 26 de outubro de 2011 by Luis Tertulino in Loucuras usadas:
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Eu não quero travesseiros
Para compartilhar meus desejos
Eu nem sei pra onde vou
Mas eu não estou nem aí
Eu nem quero dormir
Eu até preciso dormir
Mas a noite grita
Pena que eu não posso responder com uivos
A festa está apenas nos meus ouvidos
E eu nem quero saber de tormentos
Eu estou lá no alto
E a casa cheia de ratos
Ou não
Pra que eu vou pra frente do espelho?
Deixe essa barba crescer
São os outros que têm que entender

Essa é a minha poesia medíocre da madrugada
Se quiser, chamem a brigada
Porque eu não estou nem aí!

Amazônia e internacionalização

Posted: segunda-feira, 24 de outubro de 2011 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: ,
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Durante debate em uma universidade, nos Estados Unidos,o ex-governador do DF, ex-ministro da educação e atual senador CRISTÓVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia.
O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro.
Esta foi a resposta do Sr.Cristóvam Buarque:


De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.
Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro.O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço."
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês,decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!

A arte do silêncio

Posted: quinta-feira, 13 de outubro de 2011 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , , ,
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Pra mim, a voz representa a liberdade, sério mesmo. Uma pessoa sem voz é presa de outra com voz. A linguagem deve ter sido um dos primeiros passos para a autonomia. E autonomia está diretamente relacionada com liberdade, mas isso é outra história.
Mas, como disso alguém cujo nome não lembro, "a sua liberdade termina quando a do outro começa". Acredito nessa frase e a considero bastante significativa. Todos têm, ou pelo menos deveriam ter, o direito de falar, de se expressar, de se comunicar da maneira que achar melhor. Portanto, quando um fala, o(s) outros(s) deve(m) parar para ouvir.
Mas, o que eu tenho para falar não tem a ver diretamente com liberdade, repressão, ou coisas do gênero. Estou para falar do silêncio. Sim, o silêncio, uma arte sublime de expressão tão rara nesses dias em que todos querem falar ao mesmo tempo. Parece que não há mais tempo para ouvir atentamente aos próprios pensamentos. Abrir a boca é o mais importante, mesmo que saia algo totalmente desimportante. E todo mundo querendo falar ao mesmo tempo só pode resultar em uma coisa: cacofonia.
Qual a importância do silêncio? Imagine um concerto de uma orquestra e duas pessoas decidem conversar entre si em alto tom? Adeus concerto! Atrapalharia todo o clima todo o clima da apreciação musical. Imagine em uma prova, um aluno decide conversar. É por essas e inúmeras outras situações que o silêncio é importante. E não me refiro à ausência total de som, mas sim a parar para ouvir. É aquela coisa da sua liberdade liberdade acabar quando a do outro começar. Há quem opte usar a sua liberdade de forma silenciosa; mesmo assim, devemos parar para ouvir o silêncio.

Vamos todos nos unir por um mundo livre e mais silencioso!