O corpo

Posted: quarta-feira, 20 de junho de 2012 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , ,
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Este quarto, onde estou agora
Onde minha alma e minha cabeça repousam agora
Este quarto, portador de uma luz branca como todas as cores do mundo
Este quarto guarda meus pensamentos
Apenas este quarto sabe quem eu sou agora
Somente ele é capaz de sentir-me.

A luz que há nele
A luz que gera formas escuras e cria as coisas para os meus olhos
É a mesma que ilumina meu corpo cansado
O corpo da labuta diária
O corpo que não vai durar cem anos
O corpo que talvez não dure cinquenta anos
O corpo que talvez não dure até o fim disto.

Este corpo é o corpo que tudo faz
É o corpo que me transporta
É o corpo que faz o mundo trabalhar
É o corpo que percebe as coisas num giro selvagem e repentino
É o corpo que que possui um cérebro para pensar.

Esses pensamentos são os que tentam entender o mundo
São os pensamentos que buscam soluções para as coisas
São os pensamentos que muito descobre
São os pensamentos que aniquilam o sono quando recosto a cabeça à noite
São os pensamentos que têm de opinar sobre tudo.

Essas opiniões que procuram entender as pessoas
Essas opiniões que constroem uma política mundial
Essas opiniões que justificaram muito sangue derramado,
muito sangue roubado
As opiniões de tudo que existe.

Mas esta noite não.
Guardarei as opiniões no baú
Se o baú não existir, eu o criarei
Pois ainda há a imaginação para mencionar
A imaginação que nos faz escapar da loucura
A imaginação que recria tudo o que foi destruído;
Guardarei também a política no baú, pois ela parece querer me matar
Guardarei os discursos, pois a cabeça não dá mais conta deles
Guardarei algumas pessoas, pois estas me dão certo trabalho
Irei guardar tudo isso, pois não me interessam por hora
No momento certo, retornarão, com plena certeza
De que dois e dois são e sempre serão quatro;
Mas hoje haverá apenas a luz que cria o giro selvagem
Apenas o corpo inerte
Apenas os olhos, oscilando entre o giro selvagem e a plena escuridão
Apenas o estalar de ossos, para livrar-me do cansaço dos dias.

É o que há por hoje.