Em defesa da vida...

Posted: quinta-feira, 30 de dezembro de 2010 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: ,
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E eis que hoje acordo lembrando de uma história que aconteceu no ano passado. A história era a de uma menina de nove anos que tinha sido abusada sexualmente pelo padrasto. E para piorar a coisa toda, ela havia ficado grávida de gêmeos dele. Como seu corpo ainda não estava preparado anatômica e fisiologicamente para dar à luz, os médicos decidiram realizar uma aborto. O arcebispo decidiu então excomungar - expulsar da Igreja Católica - os pais da menina, a própria menina e os médicos envolvidos no aborto, sob acusação de que o aborto é uma ato grave contra a vida.
No mesmo instante, me vieram à cabeça vários pensamentos, todos centrados mais ou menos na mesma coisa. Primeiro, a Igreja parece não raciocinar.  Essa menina nunca que teria condições físicas e psicológicas de ser mãe de gêmeos aos nove anos de idade. Além disso, a constituição é clara quanto ao aborto: ele é permitido em caso de estupro e no caso de oferecer risco à vida da mãe. Ambos eram os casos da menina. Então, porque não deveria ser liberado? Por mim, NESSE CASO nem precisaria de leis liberando.
Além disso, tem outra coisa que me indigna mais ainda. A Igreja se diz protetora da vida, por isso teve que excomungar essas pessoas, pois o aborto é atentado contra a vida. Mas espere aí, um estupro a uma menina de nove anos - sendo isso também pedofilia - não seria um atentado contra a vida, nesse caso até maior que o aborto em si? Eu acredito que sim - me desculpe se você achou isso um absurdo, mas problema seu! Ela se diz protetora da vida, mas nem se importou com o estupro praticado pelo padrasto da menina, nem se quer o excomungou - não que fosse fazer alguma diferença, no sentido prático -, o que demonstra que a Igreja considera que o aborto é mais grave que o estupro e a pedofilia.
Onde está a defesa da vida, tão pregada pela Igreja? Onde está a misericórdia? Agora eu me lembro que muitos bispos pelo mundo inteiro foram acusados de pedofilia e nada aconteceu com eles. Será que o papa tornou tão sacro a pedofilia na igreja quanto a comunhão? Parece ser essa a linha de raciocínio.
Eu achei na internet um artigo sobre a posição do filósofo frâncês Michel Onfray, que além de comentar o caso, lou sobre algumas das posturas da igreja, entre as quais em relação ao aborto, além do papel da filosofia e da religião na atualidade.
"Eu li na imprensa francesa que, para o bispo de Recife, o estrupo é menos grave que o aborto. Quando alguém lhe perguntou porque o padastro não foi excomungado, ele respondeu que 'dar a morte é mais grave'. Dar a morte a um feto é mais grave que o estupro e a pedofilia? (...) Ela (Igreja Católica) pretende defender a vida, mas ela não a defende. Onde está a dignidade nesta aventura? O que se pode chamar de vida? Onde ela se encontra? Numa manifestação biológica? (...) A Igreja defendeu a vida ao dar a bênção às bombas atômicas que explodiram em Hiroxima e Nagasaki? Ela defendeu a vida ao dar a bênção às armas que serviram para assassinar os republicanos espanhóis durante a Guerra da Espanha?. A Igreja pretende defender a vida, mas o que ela defende é o poder em vigor. Na verdade, o que fascina a Igreja é a morte. É a morte que lhe interessa. (...) A Igreja somente demonstra o que ela foi e é, colocando-se sempre ao lado dos fortes, dos poderosos, da colaboração. Ela não resiste. Ela não se preocupa com os pobres. Ela não demonstrou misericórdia a este ser frágil que foi violentado pelo padrasto. Ela não apoiou esta menina. Ao contrário, ela ainda a afligiu, considerando-a até culpada e responsável."

É por isso que eu deixei a Igreja Católica. Não pense que vim aqui mostrar que sou "sem religião", e ficar com aquela ladainha de sempre. Só quis mostrar um PORQUÊ de todas as minhas posições religiosas. Na época do ocorrido, eu ainda "era" católico, e fiquei indignado e chocado com a posição estúpida e hipócrita do bispo. E só de lembrar fico ainda mais indignado, mas o que eu penso não importa agora. Só queria mostrar a vocês o que realmente acontece nesse âmbito "sagrado".



P.S: Clique aqui para ler o artigo que eu citei nesse texto.

Christmas Lies

Posted: sexta-feira, 24 de dezembro de 2010 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: ,
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É tempo de natal e ano novo, época em que os seres humanos decidem se juntar para promulgar a paz mundial nos meios de comunicação, nas lojas, em toda forma de mídia e consumo. Acho que já deu para você perceber minha posição sobre essas datas. Mas tudo depende no final da contas do (seu) ponto de vista. O objetivo desse texto é, em sua essência mais remota, expor minha opinião e posiçaõ sobre o natal, especificamente.

Vamos por partes. Qual o significado original do natal? É celebrar o nascimento do filho de Deus. Agradecer por ele ter salvo a humanidade. Não é isso? Bom, foi o que eu aprendi na família e na escola principalmente. A questão é: eu nunca vi absolutamente NINGUÉM se lembrar disso; só o que vi nesses meus quinze anos foi meus familiares se reunirem na noite do dia 24 de dezembro e beberem a noite inteira e uma parte da madrugada e ouvirem forró (essa última parte é de uns 5 anos pra cá). Onde fica o significado religioso da data? Na hipocrisia cristã, porque eu não vejo nada disso!
Outra coisa: o natal é pra celebrar o nascimento de Jesus, o filho de Deus que salvou a humanidade. Nada disso! A meu ver, a humanidade não está salva coisíssima nenhuma, ao contrário: está cada dia pior, mais podre e suja.

Outro detalhe que irrita MUITO está também na questão religiosa. A igreja prega que deve-se viver de forma humilde, sem luxo algum, só com o necessário. Mas não é isso que vejo. Vejo o auge do capitalismo. Lojas e mais lojas fazendo propagandas e mais propagandas de produtos natalinos, tudo para esgotar o décimo terceiro salário do povo brasileiro. Tudo uma forma de marketing em busca do lucro desmedido. É o momento em que o capitalismo cresce e as pessoas percebem menos do que no resto do ano, pois estão plenamente imersas nele.

E mais: todos desejam paz para todos, sendo que quase não se falam, ou não se falam mesmo. E insistem nisso! "Ah, como é natal, vou falar com ele, nem que seja para desejar feliz natal! Depois ele me esquece e eu esqueço dele!" Isso não cola comigo. Eu só desejo Feliz Natal para aqueles que eu julgo merecer, e que tenho uma convivência legal e agradável (nem precisa ser tão agradável assim). Por que eu desejaria paz para uma pessoa que nem tenho contato? É demais para mim. Aguento tudo isso à força.
E ainda por cima vêm falar em "paz mundial" e derivados. Aí a coisa me irrita de vez! "Vamos agradecer a Deus pela mesa farta durante esse ano, pelo lar que temos e pela paz mundial...". E as pessoas que mal têm o que comer? E as pessoas que usam como lençol páginas de jornal? E as famílias arrasadas pelos conflitos internacionais? Como ficam todos esses? Onde está a benção de Deus nesses momentos? Que pai é esse, que deixa seus filhos se destruírem?

Se milagres existem? Sim. Exemplo: eu ainda acredito em Deus, mas não da forma cristã. Eu caí fora do cristianismo e sua hipocrisia há mais de um ano. Se você se sentiu ofendido com essa minha declaração, PROBLEMA SEU!!! Eu já tô de saco cheio dessas esperanças falsas.
Se você acredita na paz natalina, bom pra você. Faça bom proveito dela, mas com consciência de que o mundo não é essa coisinha bonitinha pregada por você sabe quem/o quê.



P.S: Montei uma playlist aqui no blog que acrescentam mais vigor ao texto, e que faz parte da minha "trilha sonora natalina". Veja aqui.

P.S.2: Coloquei um conto de Marcelino Freire na seção "Citações" deste blog. Veja aqui.

Chiaroscuro

Posted: quinta-feira, 16 de dezembro de 2010 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: , , ,
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É uma já conhecida minha, mas parece que eu nunca a senti. É algo tanto estranho quanto velho 'amigo'. São muitas reviravoltas nesse pequeno universo de uma página. Engraçado, hoje choveu. Minha tarde e noite foram não perfeitas, mas agradáveis. E ao mesmo tempo estranhas. As sensações frente-a-frente.

De um lado, minha insustentável leveza, tornando-me aquele pássaro que canta alegremente sob a luz do alvorecer e do pôr-do-sol.
Do outro, minhas bufadas de cansaço e insatisfação com as autoridades, mostrando-me algo plenamente insustentável, e ingerível à força, porque digerir isso é foda!

Estamos pagando um salário para alguém que não trabalha. Eu mal recebo um salário para trabalhar. Estamos custeando o intercâmbio de seus filhos. Eles nem sequer nos dão um caderno para ir à escola.

(Pausa. Gostaria de registrar aqui uma palavras que escrevi hoje mais cedo. Uma ex-página em branco. Neste espaço, nada mais passa a fazer sentido. Pelo menos não o mundo. Essas linhas são como o Big Bang. Mais um universo. E como todo universo, uma hora a explosão se contrai. Talvez recomece; talvez não. Tudo depende de ocasiões, e pronto. Tudo começa, tudo termina. Continuemos.)

Eles acham que tudo isso é pouco. Eu acho que o meu é vazio. Quem sabe assim temos o branco e o cinza? O problema é o cinza: tem horas que ele quer ser o branco, e tem horas que ele quer ser o preto. Aí fica difícil. E pior: é um deles dois, só que vestido do outro.

Everything in it's right place? Maybe yes, Maybe not. Se for assim? Eu acho que não. E o que acharia um miúdo de gente? Tá bom, essa última pergunta foi meio ruim, mas fica a questão pra quem a desejar.

Tudo perece só aumentar no final das contas e impostos. E as bandeiras brancas continuam a ser hasteadas nessa época de mentiras brancas. Talvez eu não consiga, mas vou tentar apresentar minha verdade preta, pra ver se as coisas ficam meio cinzas (É porque eu acho que o arco-íris seria mais bonito se fosse em escalas de cinza).

E tudo fica cada vez mais branco, sabe? Bandeiras, lenços, paredes, páginas, retinas... Precisamos de focos escuros. Nothing in it's right place!



"There are two colours in my head
There are two colours in my head
What, what is that you tried to say?
What, what was that you tried to say?"

Feliz aniversário Clarice!

Posted: sexta-feira, 10 de dezembro de 2010 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: ,
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Hoje é 10 de dezembro de 2010. Hoje o dia começou com chuva em minha cidade. Uma sexta-feira. Perfeito! O último dia da semana começando com uma chuva. E não chove faz um tempo, posso dizer. E a chuva tem um significado filosófico pra mim. Pra mim não é apenas a água que sai das nuvens porque estas últimas saturam num detreminado momento. A chuva é um momento de reflexão para mim, um encontro com meu interior.
E descubro que hoje é aniversário de uma grande escritora - pra mim a maior - brasileira: Clarice Lispector. Não conhecço muito Clarice. Até agora só li um livro dela, o último, A Hora da Estrela. Mas fiquei maravilhado com aquele livro. O melhor livro que eu li esse ano, não só os trabalhados pela professora, mas no geral.
O jeito introspectivo, existencialista, mostrando que todos nós somos um mero acaso. Nascemos e pronto. Como podíamos muito bem não ter nascido. Morrermos no quarto mês de gravidez de nossa mãe. Ou poderíamos ser grandiosos, ou poderíamos ser um monte de coisas...
Aí de repente chove hoje. Imediatamente remeto à Macabéa, personagem principal de A Hora da Estrela, e a personagem menos notada da história. Ela não é importante, isso é fato. Assim como todos nós. Somo facilmente substituíveis, e passamos a vida inteira tentando mudar isso. Porque sem utilidade, somos o vácuo. Mas aí eu me dou conta de que eu não preciso ser útil pra ser feliz. A filosofia não tem utilidade (imediata), mas mesmo assim muitos a adoram! Não preciso estar pesado pra me dar conta de eu estou vivo! Basta eu estar cheio (não completo!), e mesmo assim eu serei leve.
É por isso que eu digo que Macabéa é uma de minhas heroinas.

Se Clarice ainda estivesse viva, estaria completando 90 anos hoje (10 de dezembro). Nos deixou vários livros. E não apenas isso. Mas também, eu acho, (anti-)herois plenamente substituíveis. É muito triste saber que ela se foi com um câncer inoperável no ovário, sim. Mas sinceramente, acho que se ela continuasse viva, ela teria se suicidado recentemente, pois as coisas estão absurdas.
Todo mundo acha que é mais especial do que o resto do mundo, ninguém se toca que somos só mais um entre 6 bilhões e meio. O mundo hoje insiste em sobreviver a todo custo, sem se importar com as condições dessa sobrevivência. E tudo e todos são explorados até secar! Ela não teria aguentado.

E viva Clarice!


P.S: Vejam o trecho de "A Hora da Estrela" que eu coloquei na seção Citações. Achei interessante colocar alguma citação dela.
P.S.2: Leiam A Hora da Estrela. É um livro maravilhoso, e você vai perceber o quanto "mais um" nós somos.

Jingle Hell

Posted: sexta-feira, 3 de dezembro de 2010 by Luis Tertulino in Loucuras usadas: ,
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Bem, finalmente chegamos no mês de Dezembro, o último mês do ano; o mês onde começam os preparativos para as festas de fim de ano; as compras de Natal e de Ano Novo; onde se iniciam os momentos de reflexão, o que fazer e o que não fazer no ano seguinte; e coisas do gênero. Entretanto, é o mês que termina o ano letivo nas escolas. E antes do fim, vêm a enxurrada de provas, trabalhos e atividades, tudo de uma vez só!
Pois é, este é o mês do aperto para mim e para centenas de outros alunos de minha escola. Trabalhamos o ano inteiro, mas nesse período é que a coisa toda se junta num período de tempo menor e na verdade só faz aumentar. Praticamente não temos tempo para nós mesmos, temos que focar quase inteiramente nas atividades acadêmicas. Alguns até envolvidos com projetos que se desenrolaram ao longo do ano (certo, alguns tiveram certos probleminhas!).
É a época em que os desesperados depositam toda a sua fé e esperança, pois não se deram muito bem no resto do ano com relação a algumas disciplinas. E mesmo os que se anteciparam para não se preocuparem agora estão preocupados e desesperados, como é o meu caso!
Simplesmente estamos cansados e esgotados. Mas parace que temos uns poderes de Fênix impressionantes, que não nos deixam morrer antes do tempo! E ainda tenho minhas dúvidas sobre a razão de ainda estarmos vivos!
E do cansaço e da exaustão, surgem os velhos "amigos" estresse e irritação. É provável que você tenha noção do que estou falando. Não raciocinamos direito, ficamos irritados com qualquer coisa e tal. Hoje por exemplo minha turma simplesmente perdeu o controle em 10 minutos ao saber que perdermos algumas horas vitais para a realização de um trabalho. Embora ano passado tenha conhecido o final do ano na minha escola, esse ano eu me surpreendi com a situação.
O que tem me mantido vivo e inteiro talvez seja a música, vital para mim. A única coisa que me faz ter forças para eu me levantar da cama quando acordo de manhã cedinho é saber que pouco tempo depois eu vou ouvir os sons de meu agrado. Pena que nem todos possam usar disso para se sentirem melhor, eu acho.
Felizmente minha preocupação não está em me matar de estudar por causa de nota, quanto a isso não estou preocupado. Minha preocupação está em não alcançar meus objetivos de forma completa. Eu não quero simplesmente passar de ano, quero passar de ano com um bom rendimento, não só acadêmico, mas no que aprendi nos 200 dias letivos.
Sabe o que é mais interessante e irônico, até?
Que nós gostamos de tudo isso; gostamos de passar o ano estudando e aprendendo, envolvidos em projetos e afins. Isso é o que talvez realmente nos dê forças para prosseguirmos e insistirmos nisso.

Mas nós não aguentamos mais, e todos os dias, em vários momentos, clamamos pelo fim das aulas!